Estou cansado
Sinto algo estranho
Talvez eu esteja estragado
Sinto essa sensação estranha
Como se quisesse me dizer algo
Mas apenas deixa-me penar
O vazio é tão cheio de dor
Que ao olhar com detalhes é possível ver sua cor
Eu diria preto, mas não consigo decifrar
Sentado a soleira do nada
Eu apenas observo tudo desmoronar
E penso que poderia ser diferente
Poderia ter feito outro caminho
Mas aqui estou eu
Esperando tudo acabar pra quem saber tentar de novo
(Gomex)
Casas Destelhadas é um projeto que reúne textos autorais escritos ao longo de alguns anos de minha vida. Poemas, contos, desenhos, crônicas e diversas outras manifestações fazem parte desta coletânea. Inicialmente o projeto contava com a participação de diversos outros amigos, que aqui vão colaborar através de suas caricaturas. Tais contribuições aparecerão em forma de poemas, frases, quadrinhos e músicas das quais esses amigos são autores ou personagens.
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sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Texto de um Amigo Anônimo
Hoje sou o carteiro
Amanhã talvez o cantor
E quem sabe depois eu decida melhor
A mascara é fria e meu rosto não aguenta mais
Ele sangra e recusa toda essa troca
Hoje não mais tenho face
Foram tantas mudanças
Muitas tentativas
Que hoje nem sei quem eu sou
Talvez eu seja o padeiro
Ou talvez o personagem que mais gostei
Ou então o que me causou menor dor
Esse sou eu
Ou talvez meu personagem
Como saberei?
(Gomex)
Amanhã talvez o cantor
E quem sabe depois eu decida melhor
A mascara é fria e meu rosto não aguenta mais
Ele sangra e recusa toda essa troca
Hoje não mais tenho face
Foram tantas mudanças
Muitas tentativas
Que hoje nem sei quem eu sou
Talvez eu seja o padeiro
Ou talvez o personagem que mais gostei
Ou então o que me causou menor dor
Esse sou eu
Ou talvez meu personagem
Como saberei?
(Gomex)
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Conto do Hospital
O homem entrou no hospital às quatorze horas. Entrou, sentou na cadeira da sala de espera e ficou... observando o protocolo de atendimento. Alguns segundos depois levantou e dirigiu-se à recepção. Perguntou se ali não estava internado um seu amigo, soubera de uma acidente na estrada principal da cidade e que esse seu amigo para aquele hospital havia sido encaminhado.
Simpática, a recepcionista buscou pelo nome e nada encontrou. Voltou-se para o homem com o velho "não há ninguém com esse nome nas dependências da casa, senhor!" estampado no sorriso. Mas o homem insistiu: aquele era o nome, não era outro! E que o amigo ali tinha sido internado. Declarou-se desconfiado de que havia algo muito velado naquela história.
Mesmo assim saiu. E duas horas depois voltou. Disse que havia entrado em contato com os familiares do amigo, que confirmaram que ali mesmo ele estava internado. A recepcionista insistiu que ali ninguém havia com tal nome. E o homem repetiu articulando bem os lábios: "Joããão Pereeeiiiira da Siiiilllllva". Ela, por sua vez, mostrava o monitor com a tela do sistema: nenhum registro para aquele nome!
O homem então questionou se não estaria ela escrevendo o nome errado e ela, aceitando à priori a sugestão, pediu-lhe que anotasse calmamente como se escrevia o nome do amigo. E ele anotou em letra de forma: "JOÃO PEREIRA DA SILVA". A recepcionista voltou-se então ao computador e digitou letra por letra, sem pressa: "J-o-~-a-o-ESPAÇO-P-e-r-e-i-r-a-ESPAÇO-d-a-ESPAÇO-S-i-l-v-a". Teclou ENTER e: "Registro não encontrado!".
Não podia ter se enganado, mas checou novamente e nada aconteceu. Notou que o homem estava muito nervoso e lhe ocorreu que o erro podia estar vindo dele, então, antes de perguntar outra coisa, tentou primeiro variações de combinações entre o nome, o pré-nome e o sobrenome do sujeito. Mas nenhum registro apareceu, tentou de "João Ferreira da Silva" até "Janjão Cerqueira Cacilda". Por exemplo, chegou mesmo a tentar (por desespero mais que por lógica) "Peão Sereira ja Dilva", mas não encontrou nada. O mais próximo a que chegou foram nomes femininos.
Assim decidiu-se, finalmente, pela questão: "O senhor tem certeza de que não está enganado, não se trata de uma mulher?" Ao que ele, obviamente respondeu que não. Havia crecido com o amigo, sabia que era homem. Então ela cogitou a mudança de sexo como fato plausível e o homem a olhou de volta duramente e de lado. Ao que a recepcionista respondeu que, sendo assim, nada poderia fazer para ajudar. Finalizou com um obrigado.
O homem saiu, voltou, saiu e voltou novamente dizendo que só saía dalí com notícias do amigo. Sentou-se e ficou. Passou mais duas horas ali sentado, até que a recepcionista, muito sensibilizada com a situação tentou encontrar um jeito de ajudá-lo. E ela ligou para todos os hospitais da região, procurando por notícias desse tal João: notícia nenhuma! Ligou para todas as polícias e ficou desolada com a falta de possibilidades de ajudar àquele pobre homem. Por isso chegou perto e sentou. Pediu desculpas ao homem, tinha tentado de todas as maneiras e nada conseguiu. O homem olhou severo em seus olhos, severo mas com ar de sublime compreensão, levantou-se, ajeitou-se e saiu sem olhar para trás. Do lado de dentro, ainda um pouco estarrecida, ficou a recepcionista, Marina Araújo da Conceição, era filha, mãe, amiga, sabia como era se preocupar com alguém daquele jeito. E do lado de fora, olhando as horas e sorrindo, andou o homem em direção à rua, João Pereira da Silva, era louco, simplesmente louco.
Simpática, a recepcionista buscou pelo nome e nada encontrou. Voltou-se para o homem com o velho "não há ninguém com esse nome nas dependências da casa, senhor!" estampado no sorriso. Mas o homem insistiu: aquele era o nome, não era outro! E que o amigo ali tinha sido internado. Declarou-se desconfiado de que havia algo muito velado naquela história.
Mesmo assim saiu. E duas horas depois voltou. Disse que havia entrado em contato com os familiares do amigo, que confirmaram que ali mesmo ele estava internado. A recepcionista insistiu que ali ninguém havia com tal nome. E o homem repetiu articulando bem os lábios: "Joããão Pereeeiiiira da Siiiilllllva". Ela, por sua vez, mostrava o monitor com a tela do sistema: nenhum registro para aquele nome!
O homem então questionou se não estaria ela escrevendo o nome errado e ela, aceitando à priori a sugestão, pediu-lhe que anotasse calmamente como se escrevia o nome do amigo. E ele anotou em letra de forma: "JOÃO PEREIRA DA SILVA". A recepcionista voltou-se então ao computador e digitou letra por letra, sem pressa: "J-o-~-a-o-ESPAÇO-P-e-r-e-i-r-a-ESPAÇO-d-a-ESPAÇO-S-i-l-v-a". Teclou ENTER e: "Registro não encontrado!".
Não podia ter se enganado, mas checou novamente e nada aconteceu. Notou que o homem estava muito nervoso e lhe ocorreu que o erro podia estar vindo dele, então, antes de perguntar outra coisa, tentou primeiro variações de combinações entre o nome, o pré-nome e o sobrenome do sujeito. Mas nenhum registro apareceu, tentou de "João Ferreira da Silva" até "Janjão Cerqueira Cacilda". Por exemplo, chegou mesmo a tentar (por desespero mais que por lógica) "Peão Sereira ja Dilva", mas não encontrou nada. O mais próximo a que chegou foram nomes femininos.
Assim decidiu-se, finalmente, pela questão: "O senhor tem certeza de que não está enganado, não se trata de uma mulher?" Ao que ele, obviamente respondeu que não. Havia crecido com o amigo, sabia que era homem. Então ela cogitou a mudança de sexo como fato plausível e o homem a olhou de volta duramente e de lado. Ao que a recepcionista respondeu que, sendo assim, nada poderia fazer para ajudar. Finalizou com um obrigado.
O homem saiu, voltou, saiu e voltou novamente dizendo que só saía dalí com notícias do amigo. Sentou-se e ficou. Passou mais duas horas ali sentado, até que a recepcionista, muito sensibilizada com a situação tentou encontrar um jeito de ajudá-lo. E ela ligou para todos os hospitais da região, procurando por notícias desse tal João: notícia nenhuma! Ligou para todas as polícias e ficou desolada com a falta de possibilidades de ajudar àquele pobre homem. Por isso chegou perto e sentou. Pediu desculpas ao homem, tinha tentado de todas as maneiras e nada conseguiu. O homem olhou severo em seus olhos, severo mas com ar de sublime compreensão, levantou-se, ajeitou-se e saiu sem olhar para trás. Do lado de dentro, ainda um pouco estarrecida, ficou a recepcionista, Marina Araújo da Conceição, era filha, mãe, amiga, sabia como era se preocupar com alguém daquele jeito. E do lado de fora, olhando as horas e sorrindo, andou o homem em direção à rua, João Pereira da Silva, era louco, simplesmente louco.
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