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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Outro Texto de um Amigo Anônimo

Estou cansado
Sinto algo estranho
Talvez eu esteja estragado

Sinto essa sensação estranha
Como se quisesse me dizer algo
Mas apenas deixa-me penar

O vazio é tão cheio de dor
Que ao olhar com detalhes é possível ver sua cor
Eu diria preto, mas não consigo decifrar

Sentado a soleira do nada
Eu apenas observo tudo desmoronar
E penso que poderia ser diferente

Poderia ter feito outro caminho
Mas aqui estou eu
Esperando tudo acabar pra quem saber tentar de novo

(Gomex)

Texto de um Amigo Anônimo

Hoje sou o carteiro
Amanhã talvez o cantor
E quem sabe depois eu decida melhor

A mascara é fria e meu rosto não aguenta mais
Ele sangra e recusa toda essa troca
Hoje não mais tenho face

Foram tantas mudanças
Muitas tentativas
Que hoje nem sei quem eu sou

Talvez eu seja o padeiro
Ou talvez o personagem que mais gostei
Ou então o que me causou menor dor

Esse sou eu
Ou talvez meu personagem
Como saberei?

(Gomex)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Conto do Hospital

O homem entrou no hospital às quatorze horas. Entrou, sentou na cadeira da sala de espera e ficou... observando o protocolo de atendimento. Alguns segundos depois levantou e dirigiu-se à recepção. Perguntou se ali não estava internado um seu amigo, soubera de uma acidente na estrada principal da cidade e que esse seu amigo para aquele hospital havia sido encaminhado.
Simpática, a recepcionista buscou pelo nome e nada encontrou. Voltou-se para o homem com o velho "não há ninguém com esse nome nas dependências da casa, senhor!" estampado no sorriso. Mas o homem insistiu: aquele era o nome, não era outro! E que o amigo ali tinha sido internado. Declarou-se desconfiado de que havia algo muito velado naquela história.
Mesmo assim saiu. E duas horas depois voltou. Disse que havia entrado em contato com os familiares do amigo, que confirmaram que ali mesmo ele estava internado. A recepcionista insistiu que ali ninguém havia com tal nome. E o homem repetiu articulando bem os lábios: "Joããão Pereeeiiiira da Siiiilllllva". Ela, por sua vez, mostrava o monitor com a tela do sistema: nenhum registro para aquele nome!
O homem então questionou se não estaria ela escrevendo o nome errado e ela, aceitando à priori a sugestão, pediu-lhe que anotasse calmamente como se escrevia o nome do amigo. E ele anotou em letra de forma: "JOÃO PEREIRA DA SILVA". A recepcionista voltou-se então ao computador e digitou letra por letra, sem pressa: "J-o-~-a-o-ESPAÇO-P-e-r-e-i-r-a-ESPAÇO-d-a-ESPAÇO-S-i-l-v-a". Teclou ENTER e: "Registro não encontrado!".
Não podia ter se enganado, mas checou novamente e nada aconteceu. Notou que o homem estava muito nervoso e lhe ocorreu que o erro podia estar vindo dele, então, antes de perguntar outra coisa, tentou primeiro variações de combinações entre o nome, o pré-nome e o sobrenome do sujeito. Mas nenhum registro apareceu, tentou de "João Ferreira da Silva" até "Janjão Cerqueira Cacilda". Por exemplo, chegou mesmo a tentar (por desespero mais que por lógica) "Peão Sereira ja Dilva", mas não encontrou nada. O mais próximo a que chegou foram nomes femininos.
Assim decidiu-se, finalmente, pela questão: "O senhor tem certeza de que não está enganado, não se trata de uma mulher?" Ao que ele, obviamente respondeu que não. Havia crecido com o amigo, sabia que era homem. Então ela cogitou a mudança de sexo como fato plausível e o homem a olhou de volta duramente e de lado. Ao que a recepcionista respondeu que, sendo assim, nada poderia fazer para ajudar. Finalizou com um obrigado.
O homem saiu, voltou, saiu e voltou novamente dizendo que só saía dalí com notícias do amigo. Sentou-se e ficou. Passou mais duas horas ali sentado, até que a recepcionista, muito sensibilizada com a situação tentou encontrar um jeito de ajudá-lo. E ela ligou para todos os hospitais da região, procurando por notícias desse tal João: notícia nenhuma! Ligou para todas as polícias e ficou desolada com a falta de possibilidades de ajudar àquele pobre homem. Por isso chegou perto e sentou. Pediu desculpas ao homem, tinha tentado de todas as maneiras e nada conseguiu. O homem olhou severo em seus olhos, severo mas com ar de sublime compreensão, levantou-se, ajeitou-se e saiu sem olhar para trás. Do lado de dentro, ainda um pouco estarrecida, ficou a recepcionista, Marina Araújo da Conceição, era filha, mãe, amiga, sabia como era se preocupar com alguém daquele jeito. E do lado de fora, olhando as horas e sorrindo, andou o homem em direção à rua, João Pereira da Silva, era louco, simplesmente louco.