Um deles começou a falar comigo, tentava entrar em minha mente.
Fazia parte de uma legião e servia a um líder perverso de nome
composto (que não irei mencionar). Me desafiou para um jogo, do qual
me esquivei por um tempo fazendo-o partir. Mas ele continuava
tentando e eu clamava o nome do meu mestre para me livrar daquele
mal. O inimigo lançava-me feitiços muito fortes que me faziam
contorcer de dor e agonia, quando resolvi lutar para acabar com tudo
aquilo.
Um portal abriu-se na parede do meu quarto e o rosto do inimigo se
revelou nele. Depois desapareceu me fazendo segui-lo pelo mesmo
lugar. Como num sonho me deparei com dois exércitos lutando num
descampado e um deles era comandado pelo meu inimigo. Lutei contra
eles e quando os soldados do outro exército (que perdia a batalha)
me viram, animaram-se e começaram a reverter o destino da batalha.
Vencemos e derrotei meu inimigo com uma espada que encontrei no campo
de batalha.
No entanto, descobri que ele era apenas o primeiro dos generais do
líder perverso e que outros viriam, um a um atrás de mim. Abandonei
o exército que ajudei e um deles, embainhando a espada, aproximou-se
dizendo: “Os generais estão todos adormecidos em um mar de lama e lava,
suas armaduras de metal estão todas enfileiradas em duas pontes
sobre esse mar. O próximo general só acorda se um anterior morrer,
mas o líder deles (que não dizemos o nome) nunca dorme e pode
encontrar você antes que vença seus generais. No caminho para o
mar de lama e lava você poderá encontrar tanto um general quanto o
seu líder. Agora vá!”
Então eu fui e no caminho vi muitas cidades dominadas pelo mal. Em
uma delas encontrei a população resistindo à minha passagem. Lá
havia um grande portão fechado para o Norte, um portão imenso
trancado, protegido por uma força ruim. Foi quando avistei pela
primeira vez o líder do mal, seu nome era igual ao nome de uma
conhecida constelação. Em estatura era menor que seus generais (que
eram muito grandes), mas a maldade ao seu redor era muitas vezes
maior e trazia sombra consigo para onde ele estivesse. Estava próximo
a uma caverna, justamente para onde fui.
Quando nos encontramos não lutamos, nos enfrentando à distância
como duas feras planejando os movimentos seguintes. Então me
concentrei em meu mestre pedindo forças e, ainda como uma fera,
pronunciei essas palavras ao líder do mal: “Você me trouxe aqui para derrotar-me, mas, em nome da força que
trago comigo, você será derrotado!”
E como um grande monstro cresci sobre ele e como uma fera eu rosnei.
Igualmente ele reagiu se afastando, chamando mais um de seus
generais. O novo general tinha a forma de uma matilha raivosa e veio
para mim com muito ódio, enquanto seu líder fugia para esconder-se.
Antes de atacar-me o general parou à minha frente com ameaça nos
olhos. Mas todos os cães de rua daquela cidade despertaram e vieram
se acercar de mim. E antes que o general me atacasse eles o atacaram.
A população enfeitiçada percebendo a derrota do general pelos cães
de rua tentou me alcançar, muitos outros cães de rua surgiram em
meu auxílio e atacaram essas pessoas.
De dentro da caverna saiu um rugido e um homem (o mesmo que me
avisara dos generais) apareceu na rua e disse que no fim daquela
caverna estava o mar de lama e lava. Então desci até as profundezas
do lugar e realmente encontrei um mar incandescente e sobre ele duas
pontes e sobre as pontes centenas armaduras enfileiradas. Uma delas
acabara de despertar e contra ela eu lutei antes que ganhasse a forma
de um general. Em seguida destruí, com a espada, todas as outras
armaduras adormecidas.
De volta à superfície achei o céu um pouco mais claro, mas as
pessoas ainda estavam enfeitiçadas e tentavam me matar e cada vez
mais grupos delas apareciam. Então lembrei de algo que meu mestre me
dera, um dom que servia para me comunicar com outras criaturas.
Convoquei alguns animais para me auxiliar na procura pelo líder do
mal e pela rua surgiram mais cães, pássaros, elefantes, girafas,
cavalos, leões, cangurus e muitos outros, pisoteando, atacando as
pessoas enfeitiçadas, varrendo a cidade à procura do inimigo.
E eu transitava pelas ruas, me esquivando de ataques e sendo
defendido, quando dois lobos vieram me avisar: haviam encontrado o
inimigo escondido e o estavam encurralando. Quando o encontrei estava
acossado por diversos animais e lhes pedi que me deixassem passar.
Deveria enfrentar aquela criatura sozinho. E foi assim que batalhamos
corpo a corpo. E foi assim que ele me feriu gravemente, mas eu
consegui derrotá-lo.
As pessoas se livraram do feitiço e vieram me cercar assustadas.
Muitos não sabiam o que fazer e para onde ir, estava tudo destruído
ao redor. E eu procurei saber sobre o grande protão, o que havia
por trás dele e porque estava trancado. Mas eles não sabiam dizer
nada sobre isso. Então falei com meu mestre em pensamento e ele me
disse apenas que abrisse o portão, pois por ele entrariam pessoas de
outras terras, trazendo ajuda para aquela gente, trazendo cura para
suas dores depois de tanto tempo de isolamento.
Foi o que fiz. E ao abrir o portão por ele entraram muita luz e
muitas novas cores, que invadiram a atmosfera e todos se sentiram
mais vivos e puderam respirar melhor. Alegres com tudo aquilo, as
pessoas da cidade viram um grande grupo de viajantes surgir ao longo
de uma estrada que terminava no portão, traziam roupas, comida e
bebida em grande quantidade, vinham dançando e cantado belas
canções. E as pessoas agora libertas do mal, agradeceram e pediram
que eu ficasse com eles, para curar-me e para liderá-los, recebendo
assim benefícios pelo favor que lhes fiz. Mas não aceitei.
Ainda ferido, muito ferido, chamei alguns animais com quem tinha
feito amizade durante tudo aquilo. Eram três tigres e uma leoa, eles
me ajudariam a chegar em casa. As pessoas ficaram um pouco assustadas
com a aproximação dos grandes animais que surgiram no meio da
multidão e me cercaram com muito carinho, como entes queridos que
sentiram muita falta de mim. Montando no maior tigre eu me despedi
das pessoas e parti daquele lugar de volta para a terra onde deveria
travar minhas próprias batalhas.